back in business

treino

e pronto, depois do ensaio d’A Queda, de sarar as feridas, finalmente voltei a um treino normal matinal. 11.5km em ritmo vivo, ou que me pareceu vivo. Foi bom voltar ao estádio universitário, ver tanta gente a correr (está bom tempo, vem aí o verão, a praia, os bikinis e fatos de banho) e tomar o meu pequeno almoço reforçado. Tenho feito muita bicicleta para os padrões habituais, esticando commutes normais como ontem em que aproveitei para um raid fotográfico. A semana passada foram 77km e esta semana vou em 64km. Sinto algum cansaço e hoje a correr ressenti-me um pouco, mas a máquina está operacional. Esta parte de quebrar a inércia após uma pausa é dura. Há algo que dá uma motivação extra: a curiosidade de saber que corredor existe agora após a Transvulcania e que estará na Ultra Douro Paiva dentro de pouco mais de um mês. Também já atinei no objectivo UTAX porque me parece bastante complicado fazer sub 3h já em 2015. Seria possível, claro, tudo é possível, mas obrigaria a um tipo de treino para o qual agora não tenho tempo. Depois do UTAX, aproveitar o embalo para o MIUT em Abril de 2016. Depois então sim, maratona de Lisboa sub 3h em Outubro 2016, talvez com uma meia maratona pelo meio. E depois, corrida de 24h em circuito. E depois, podemos ser suficientemente doidos para tentar a Spartathlon em 2017 ou 2018.

“When you are nothing, then something, pop, comes up to fill the space.”

This can lead you in one of two directions. On one hand, you can despair. If the world’s spiritual guardians are sitting watching trashy TV, then surely we’re all doomed, a hopeless species trapped in a futile rush towards destruction. Or you can take solace from their everydayness. If the monks are like us, then it figures that we are like the monks. If they can gain a deeper understanding of life, yet still indulge their foibles, then perhaps we too can attain wisdom and fulfilment.

What I learned when I met the monk who ran 1,000 marathons – The Guardian

a mãe de todas as quedas

Terminei de jantar e fui a correr para Alfama para festejar o Benfica com amigos. É verdade que bebi um copito ou outro antes de começar a correr com o cachecol do benfica na mochila, mas não foi disso. Numa transversal à avenida de Roma ao lado da estação de comboio, de noite e às escuras, em asfalto, consegui meter ambos os pés uma argola de fio de aço. Não sei o que era aquilo nem o que estava ali a fazer. Parecia um cabo de travão de bicicleta mas atado em argola. Tive subitamente ambos os pés “laçados” como um bezerro num rodeo. Nunca tinha caído tão desamparadamente, aliás, desde que corro não caí uma só vez, embora já tenha tropeçado muitas e torcido um pé. Foi pelo chão uns bons metros ajudado pelo desnível. Esfolei a canela direita, o ombro direito também ficou assado do asfalto e dorido pancada, tenho um buraquito na mão esquerda em carne viva e salpicos de gravilha encastrada na mão direita. Felizmente ninguém viu, não perdi a dignidade. Recomecei a correr devagar (lógico que fui festejar na mesma) e depois seguiu-se a sensação desagradável do sal do suor a começar a ir para as feridas. Felizmente havia cervejas geladas, boa disposição e companhia à minha espera e não pensei mais nisso.

Apesar de fazer downhill em trilhos altamente tecnicos e a grande velocidade, nunca me magoei e é curioso que quer a queda, quer o pé torcido, tenham sido em esfalto e nas duas ocasiões por haver coisas nesse asfalto que não era suposto lá estar, no primeiro caso um calhau de empedrado debaixo de uma folha de ávore e no segundo caso uma armadilha de ursos autêntica, prova de que as coisas piores acontecem quando não esperamos e não estamos alerta. Felizmente isto foi só umas esfoladelas e dentro de um ou dois dias deixa de arder.

drunk run & hangover run

Tudo no espaço de poucas horas. Fui a Alfama festejar o Benfica com amigos, a correr, já depois do jantar, muito bem disposto, e numa perpendicular à avenida de roma, à noite, dei o maior espalho de sempre. Tal como vocês, assumi que o problema fosse o excesso de minis na minha nutrição e reposição de electrólitos. Um beer consumption inbalance. Mas não. Um cabo de aço em argola, loop, perfeitinho, no meio da estrada (estava escuro). Deve ter sido um lagarto. Qual é a probabilidade de enfiar um pé numa argola de aço e depois o outro e ficar estilo bezerro num rodeo e voar para cima do asfalto esfoliante? Não sei. O que sei é que o resultado foi um ombro esfolado, duas mãos com as palmas maltradas (uma delas bastante…) e a canela da perna direita esfolada. Felizmente o meu estádio ébrio anestesiou e depois de rebolar recomecei a correr. Ironia, podemos correr por vulcões e serras de Sintra, onde me magoei sempre mais foi em cidade, mesmo o entorse foi uma estúpida pedra de calçada debaixo de uma folha de outono. Sinto-me com 10 anos de novo. Bom, aos 10 anos não tinha ressacas. Noite complicada, digamos assim (alfama, alfama…) e no dia seguinte pelas 9:00 estou a correr Lisboa acima com uma ressaca épica em que de cada vez que o meu ritmo cardíaco aumentava, sentia a cabeça a explodir. Os esfolanços também perderam a anestesia e com o suor, fica agradável. Foram mais ou menos 6km para um lado  e 6 para o outro. Agora é recuperar deste final de época.

mais notas sobre fotografia de trail

Arranjei um telemóvel CAT waterproof barato (85 euros) para a Transvulcania, sempre deu para umas fotos e filmagens meramente documentais: aquilo tem uma qualidade péssima, abaixo do que pensava. Abaixo de webcam anos 90. Não obstante, não consigo encaixar o conceito de smartphone + wilderness. Os modelos um pouco melhores em vez de terem melhor camara ou serem mais pequenos, começam com touchscreens e a aumentar brutalmente de tamanho e peso e preço. Se não for waterproof e rugged, quando levo o telemóvel vai num saco ziplock na mochila e irrita-me parar, tirá-lo da mochila para fotos. Também nunca atinei com o transporte de uma máquina fotográfica um pouco melhor, a minha compacta. É o mesmo princípio: fica na mochila protegida num ziplock bag e dá trabalho parar e tirá-la.

Mas encontrei e encomendei o modelo mais pequeno e leve de uma coisa porreira, uma mochila Mind Shift que tem a máquina num comportamento amovível para a máquina, com espuma rígida costumizável e que roda em poucos segundos para a frente.

mindshift

Já videos e reviews e aparentemente funciona, é rápido e acomoda bem a máquina (e outras coisas), incluindo um saco de hidratação. No fundo, substitui-me a mochila salomon s-lab nas ocasições em que for fotografar. Li uma review pelo menos de alguém que corria com ela e pelo menos tem arnés no peito para apertar as alças dos ombros, mas duvido, logicamente, que seja o mesmo que a salomon s-lab que é elástica e com o ponto forte da leveza e zero “chafting”.

Creio que só levarei a máquina para fotos ou em hikes propositados para isso, ou em long runs de+-30kms ou mais.A treinar para UTAX e MIUT, não é plausível ter um ritmo intenso durante a prova, vai ser uma espécie de “hike” com corrida lenta em plano e moderada a descer para ser finisher. Portanto, o que conta é mais o tempo nas pernas. Saídas de 5h serão normais e até se podem estender por mais tempo se estiver entretido a tirar fotos.

A máquina não é muito maior que uma compacta, é uma Olympus OM-D M5 mirrorless. As mirrorless conseguem ser razoavelmente compactas e leves. A Om-d m5 é à prova de água e poeiras, o que foi determinante também.

omd

O que muda bastante é o tamanho das lentes que podemos usar nela, desde uma  Pancake de 17mm que a torna extremamente compacta…

pancake

até lentes zoom, como uma 12-50mm ou uma 40-150mm

zoom

A desvalorização dos corpos das máquinas é acentuada. Uma máquina cujo corpo podia custa 1000 euros em há 3 anos, pode ser adquirida por 300 euros em 2ª mão ou 500 euros nova. Nas lentes a desvalorização é menor, embora muitas vezes haja quem venda tudo em pacote: máquina e lentes, por um preço convidativo.

Existem diferenças extremas entre lentes com especificações semelhantes. Algo que me aborreceu um pouco que neste mercado das micro 4/3 não existem lentes de gama baixa / média weather sealed. A lentes weather sealed nas micro four thirds só existem nas gamas profissionais e são muito mais caras, também por serem mais recentes. A questão do weather sealed é relevante no trail.

O tipo de lente que usarei mais nos trails é uma grande angular prime. Podia escolher uma lente zoom que começasse nos 12mm e fosse até 40mm, dando mais versatilidade, mas os zooms aumentam o peso, a fragilidade e só os modelos de topo de gama têm protecção de elementos.  A ideia é que ter algo mais simples que tem sempre a mesma distância focal e a fazer zoom é mexer os pés. Afinal sou trail runner. Também me quero familiarizar o mais possível com a lente e a distância focal e concentrar-me exclusivamente noutros aspectos da foto.

Depois de muitas reviews e ponderação, optei por uma samyang 12mm / F.2 , que corresponde a 24mm numa full format. Hesitei entre essa e uma pancake 17mm, mas como também terei uma prime de 25mm para usos “normais”, achei que ter uma lente mais extrema era mais interessante. Para escolher a lente também procurei ver muitos exemplos de fotografias de grandes angulares para este tipo de máquinas e qual o tipo de fotogrofia que eu idealizo fazer. Há um ponto (ex: 8mm) em que as imagens começam a ficar demasiado distorcidas numa micro 4/3 são as “fish eyes”.

Procurava o maior campo de visão possível com a menor distorção e os 12mm parecem acertar no ponto ideal. Existem trilhos, por exemplo em Sintra, em que gostava de conseguir captar uma atmosera de envolvimento das árvores. Exemplos de fotos tiradas com esta lente:

exemplo5 exemplo4 exemplo3 exemplo2 exemplo1

exemplo exemplo3 exemplo1

(não podia faltar a igreja, uma lente destas tem a vantagem de ser boa para arquitectura também).

Bom, há mais items necessários. O tripé. Aqui de novo as exigências especiais do trail. Tripés em carbono ultra leve são muito caros, como se esperava. A máquina é demasiado pesada para o gorila pod da miha gopro, embora haja modelos mais robustos.

gorilapod

Ainda não resolvi este problema, mas o gorilapod será provavelmente a melhor opção. Para quê o tripé? Um dos motivos pelos quais algumas fotos de paisagens são tão nítidas e ricas, com muita profundidade de campo (tudo focado) e cheias de detalhe, prende-se com aberturas mínimas que exigem tempos de exposição longos que fariam a imagem tremer.

Outra razão prende-se com tempos de exposição mais longos que conferem dinamismo a uma imagem, como o movimento da água do mar ou de um rio. Embora para mim isso seja marginal,  há um que quero captar particularmente: o vento.

wind

O vento é para mim aquilo que mais confere um tom algo dramático a certos runs que faço nos sítios mais altos.. Ver rajadas a varrer cearas ou as copas das árvores em sintra a agitar-se, é algo que gostava de captar com o “blur” de uma exposição longa em que partes da imagem ficam desfocadas. O trail running não é propriamente estático e se há algo que por vezes me aborrece na landscape photo é a sensação de “freeze”, de postal. Nem que seja um nascer do sol ou nuvens a rolar no céu, o trail runner vive sempre num movimento perpétuo à sua volta. Não é uma contemplação em que a natureza podia estar num museu. Vemos tudo um pouco desfocado e sintetizado, temos o coração a 1000.

Não sei como conferir estes efeitos sempre mas, e aqui entra o terceiro possível uso do tripé, prende-se com algo que já fiz em menorca: self portait, mesmo sem tripé, com a Lumix Lx7 (aqui usei um efeito de pós processamento para um ar mais vintage às fotos e dar um pouco mais de dramatismo e contraste no céu azul e nuvens). Metia timers de 60 segundos, corria para trás e depois voltava ou vice versa. Ou seja, se a imagem é estática, meto-me lá eu a correr.

eu3 eu2 eu1

Foi sem tripé, apenas deixando a câmara em muros e pedras e com um timer. É uma questão de ver quantas vezes precisaria mesmo de um tripé.  As fotos podiam estar melhor, por exemplo, com tempos de exposição um tudinho nada mais longos, para que eu ficasse mais desfocado (os pés, os braços por exemplo), sugerindo movimento. Creio até que ficará mais interessante se eu for apenas muito desfocado numa exposição de 2 ou 3 segundos, a sugerir movimento de forma mais forte. Ou mesmo mais longa e a sugerir apenas um fantasma…

Ainda há mais tópicos a cobrir (filtros: polarizador e densidade neutra) mas tenho de almoçar.

proxima fase: fotografia

Tinha de acontecer (não, não é o blogue errado). Tenho cá em casa livros do Ansel Adams e tive em tempos um interesse por fotografia, como todos, suponho. É, a par da poesia, daquelas formas de arte que parecem acessíveis a todos e que não dão trabalho a fazer. Não tenho talento em nenhuma das duas, mas não é isso que me impede. Adquiri uma boa máquina em 2ª mão, algumas lentes novas, uma mochila de trail para fotógrafos (existe, até posso colocar o hidra pack da salomon!) e uns filtros. Tenho muito que aprender e ainda estou a descobrir a máquina e o lightroom (software de edição). Mas fiquei fisgado. Tenho um tema relativamente único e pessoal, para além da minha filha, que massacro com fotos regulares: a corrida, especialmente o trail. Gostava de registar alguns dos locais em que corro, de forma decente. Já tive oportunidade de trocar umas ideias com o próprio Bryon Powell (autor do melhor livro de ultra running que li até agora, o Relentless Forward Progress e editor do Irunfar) no clube irunfar no Strava, num tópico que criei sobre fotografia. Gosto muito das fotos que ele tira para o fantástico http://www.trailporn.com/ e fiquei a saber que o faz com uma compacta sony rx100. Ele esteve em La Palma na Transvulcania ao mesmo tempo que eu. Uma foto sua no trailporn

palma

Penso que estou em sítios especiais a horas especiais e que normalmente não são fotografados. Não vou fotografar melhor do que outros paisagens bucólicas e bonitas, e muito menos desporto e corrida mas, inspirado pelo tipo de fotos do Trail Porn, penso que posso coleccionar algumas fotos boas. Há mesmo locais que não me lembro de ver uma só foto decente e que quando falo com as pessoas, elas não imaginam que existem ou que são assim. Eu gostaria de um dia ter a capacidade de os registar e penso que esse extra pode ser uma motivação nova para certas aventuras. Também tive pena em La Palma de não ter nada de decente para reter certas coisas. Não penso de todo levar a máquina durante uma prova, seria impensável, mas mesmo a fazer hiking e passear pela ilha, lamentei não ter algo decente para filmar ou fotografar certas vistas. Terei de lá voltar, paciência.

body fat nos 11.5% e ser sexy

Yey! Consistente após a Transvulcania, mínimos históricos.
fat

Não quero parecer o equivalente de um anorético quanto à % de body fat na corrida, mas isto deixou-me contente. Quanto mais peso perdemos (e eu perdi mais de 10kg desde que comecei a correr em 2013) mais difícil é perder % de body fat. A percentagem é relativa. É mais fácil ganhar músculo e proporcionalmente perder body fat (alguém que faça culturismo consegue percentagens de 3-4%, um maratonista anda pelos 7-10%) mas perder body fat e não perder músculo é um trabalho de longo prazo e subtil.

Sou cada vez mais feito de água.

water.

Isto são os gráficos, mas é completamente “sentível”. É um efeito colatoral interessante. Nunca corri por isso, mas não deixa de ser bom. Não é estético como ter músculos e um corpanzil e até acho que em sedentário tinha melhor figura. Não tenho saudads. Imagino o que 2 anos de ginásio poderiam fazer a uma pessoa com o meu mindset, mas nunca me interessou esse lado, para mim a força tem de ter um propósito e preferia o corpo de boxeur, até com muita gordura para amparar choques, do que a secura de um body builder. A mim dá-me gozo sentir-me leve e vibrante, como uma corda tensa, como se não tivesse peso a mais. É extraordinário. Coisas tão simples como subir escadas na ponta dos pés quando as do Chiado estão avariadas e toda gente sobre lentamente e eu vôo… ou içar a minha filha para as minhas costas sem qualquer esforço ou ir de bicicleta para o trabalho e vir cada vez mais rápido. Há tempos reparei no físico do senhor do Continente que veio entregar as compras a minha casa. Ele trabalhava a contra relógio o dia todo. Deixou o camião estacionado em 2ª fila,  tirou as paletes verdes com os sacos e subiu os 2 andares com os sacos todos. Era magro e tinha veias nodosas, tenso. Já tinha visto aquele físico impressionante antes num homem das mudanças, magro, a manejar moveis pesadíssimos escadas abaixo. As pessoas associam “tamanho” a força e claro que não duvido ( e tenho 1 amigo que é mega Conan O Bárbaro) que são fortes, mas tem piada que o pessoal que usa a força para coisas práticas como subir 300 escadas e levar sacos com quilos de compras ou então móveis em mudanças, não tem necessariamente um físico “volumoso” e óbvio.

meditação e corrida

Aproveitando a pausa na corrida pós transvulcania tenho feito mais ciclismo diariamente (mas só casa-trabalho!) e lido isto (e mais 2 livros de corrida e mais 1 de espionagem)

maraton2 maraton1

Focando-me no da meditação:Gosto de explorar todas as facetas da corrida e já não é a primeira vez que me interesso por meditação e budismo. Estudei-o por volta de 2009-2010 e apesar de nunca ter sido “convertido”, muitos conceitos ficaram e creio que foram úteis em certos momentos.  Tentei meditar e nunca consegui de forma consistente. Acho difícil que pessoas mudem só pela atracção de uma ideia ou vontade: a prática é tudo. Um católico é alguém que reza, vai a igrejas ou a missas, aplica princípios no seu dia a dia, conscientemente, em certos momentos, pelo menos. Um católico-não praticante é o mesmo que um corredor-não prtaticante. Alguém que gosta de corrida e acredita nos benefícios na corrida, mas não corre, não é muito diferente de um sedentário. Dito isto, voltei a reencontrar os conceitos, mas desta vez pela prática da corrida de longa distância. Descobri sem qualquer dúvida que preferia correr lento e longe do que rápido e perto. Que preferia o teste da resiliência, da vontade, à cronometragem de provas de 10 mil metros que voavam demasiado rápido e não me satisfaziam.

Nos  workshops de Sakyong surgem muitos ultramaratonistas. Um corredor tem mais facilidade em meditar ou é posto mais depressa em contacto com situações em que está a fazer algo físico e o ruído da mente se tenta intrometer em algo que é simples. Quem não sentiu, durante uma prova, um desalento por algo correr mal? Ou a sensação quase esmagadora dos quilómetros que falta percorrer e que pode surgir até quando só faltam 3km depois de fazer 39 numa maratona ou mesmo 70 como foi o meu caso na Transvulcania? Ou ter stress, pensar no trabalho a meio e um treino e sentir angustia? Ou pensar em coisas tristes?

A meu ver, onde realmente se faz o teste à resiliência é nos treinos diários e começa em sair da cama e calçar os ténis.

Sakyong Mipham é taxativo a dizer que correr é correr e meditar é meditar, mas que corpo e mente estão ligados e que o método de treinar a mente é semelhante à corrida. Ele diz aquilo que talvez me pudessem ter dito antes de forma mais plausível na primeira abordagem à meditação: é preciso construir uma base, lentamente, passo a passo, com disciplina diária. Eu não acreditaria se não tivesse visto em mim, passar de aguentar 5kms a 7:30km até correr maratona a 3h30′ e ultra de 80km em pouco mais de um ano. Sakyong diz que na meditação é o mesmo e que no início há dificuldade extrema em não deixar a mente divagar, mas que é preciso fazer diariamente e apresenta uma espécie de plano ou, pelo menos, de fases. No início basta o foco na respiração e tentar não pensar em nada. 10 minutos, depois estender os períodos ou frequências. Penso que vou dar uma hipótese e tentar.